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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Urbanismo: Crescimento desordenado, a consequência que se tornou causa dos males de São Paulo

Embora tenha registrado um crescimento populacional de não muito mais do que 800 mil moradores na última década -em 2000 apresentava 10,4 milhões de habitantes, hoje possui 11,3 milhões segundo o Censo 2010, um avanço modesto para uma metrópole de país em desenvolvimento- a cidade de São Paulo nunca transmitiu tanto a impressão de que está saturada e onde já é impossível se viver.
Uma pesquisa divulgada no último mês de janeiro pelo movimento “Nossa São Paulo” sobre o nível de satisfação dos moradores da cidade revelou que 51% dos habitantes da capital paulista mudariam para outro município, se pudessem.
É um índice só um pouco menor do que o do ano retrasado, quando a proporção de paulistanos com vontade de fazer as malas foi de 57%. Embora menor, o número continua equivalente à mais da metade da população.
As razões também continuam as mesmas. Além da má administração, o transporte coletivo caro e deficiente, o trânsito infernal (é comum para muitos paulistanos levar cinco horas no trajeto casa/trabalho/casa), a poluição, o lixo, as enchentes, a falta de áreas verdes, os impostos e a violência fazem parte da lista.
No bojo de tudo isso, a sensação de que a cidade cresceu demais e de maneira desorganizada, com impactos negativos sobre o acesso aos bens e serviços, à infraestrutura, à qualidade de vida e ao exercício da cidadania.
É, de fato, ao crescimento explosivo, fora de controle, em última instância, que muitos paulistanos atribuem a maioria das mazelas da cidade. Dessa leitura não escapam nem representantes do poder público, do que deu exemplo o próprio prefeito Gilberto Kassab (PSD) na última temporada de enchentes de verão.
  •   Para o prefeito Kassab, "a cidade cresceu desordenadamente onde não tem infraestrutura"
"Mais uma vez, o que causou os alagamentos foi não só o excesso de chuva, mas também o crescimento desordenado do município e a impermeabilização excessiva", afirmou o prefeito no último dia 21 de janeiro, ao explicar as inundações que naquele momento encobriam diversos pontos da cidade.

Senso comum

O fascinante na fala do prefeito não está apenas na obviedade do diagnóstico, que naturalmente poderia ser feito por qualquer cidadão. Mas, também, na sensação de que, apesar da expressão angustiada, ele não se incomodava com a vacuidade e o alto teor de senso comum presentes em sua análise.
Kassab já tinha convocado o “crescimento desordenado” para explicar, seis meses antes, porque em nove dos dez distritos que mais atraíram a atenção do mercado imobiliário desde o início da década o trânsito era a maior reclamação dos moradores.
“A cidade cresceu desordenadamente onde não tem transporte público, não tem metrô, não tem infraestrutura”, afirmou o prefeito. “Essas são as principais razões do crescimento desordenado da cidade e que levaram a esse caos."
De fato, é claro que ao crescimento desordenado se deve muito do travado trânsito paulistano, do transporte ruim, das inundações, dos milhões que habitam favelas e áreas de risco.
Só que, e isso também parece evidente, atribuir os percalços exclusivamente a ele, como se a desorganização no processo de crescimento urbano de São Paulo fosse uma espécie de entidade com vontade própria, equivale a explicar tudo não explicando rigorosamente nada. O que seria perdoável num cidadão, mas não em um prefeito.

ALBERTO MAWAKDIYE
Colaboração para o UOL.
Vale a pena ler muito interessante.

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